Qual o sentido da vida ... ?

Acredito que atualmente a busca pelo sentido da vida confundiu-se <br>com traçar e alcançar objetivos

Para muitas pessoas, a vida tornou-se uma espécie de jogo, com fases e desafios para serem enfrentados.

O objetivo é vencer. Dizemos que precisamos estabelecer metas e superar a procrastinação para vencer os desafios e ser feliz.

O resultado é uma busca incessante e uma cobrança igualmente adjetivada. Será mesmo que esse é o caminho para uma vida com sentido?

O escritor inglês Douglas Adams, autor da série literária O Guia do Mochileiro das Galáxias, imaginou um universo com vários planetas habitados por seres inteligentes. Nesse universo,

os seres mais inteligentes, aqueles que buscavam respostas para todas as perguntas, construíram um supercomputador com um único propósito: calcular o sentido da vida, do universo e tudo mais.

Após milhares de anos de processamento, o supercomputador encontrou a resposta: 42. A decepção, obviamente, foi geral. A resposta não fazia sentido. Posteriormente perceberam, contudo, que a resposta estava certa, que o problema estava na pergunta. Para uma pergunta errada, qualquer resposta é certa.

E a pergunta estava errada. Não existe um sentido para a vida, então não faz sentido perguntar. A vida contemporânea acontece no domínio do capitalismo, com economia de mercado,

empresas competindo entre si e com metas para alcançar. Acredito que o modelo empresarial de existência está sendo reproduzido em nosso espaço psíquico. Reproduzimos esse modelo quando acreditamos que a vida humana se baseia na competição ou que precisamos alcançar metas ou objetivos para nos realizarmos. Assim, colocamos como equivalentes os conceitos de sentido da vida e de objetivos na vida.

O problema está no significado que concedemos à palavra “sentido”. Confundir sentido com objetivo é um erro radical. Objetivos estão fora de nós e do nosso tempo, são metas para alcançar. E, quando se alcança, a realidade pode ser completamente diferente da expectativa. Eles podem ou não fazer sentido para nós. Um paciente me relatou que por anos sonhou em comprar um carro esportivo, bem acima do nível popular.

Após anos de esforço e sucesso profissional, conseguiu. Porém quando passou o entusiasmo inicial, a felicidade sentida pela compra foi menor do que a esperada. Percebeu que o seu sonho não era exatamente o que queria de verdade. Assim, a espera de felicidade deu lugar à hóspedes.

Esse paciente teria evitado a ingestão se compreendesse o famoso pensamento do monge vietnamita Thich Nhat Hanh: “Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho.” No caso concreto, a felicidade não está na compra do carro, mas no caminho até ele.

Em outras palavras, não está no futuro, mas no presente. Da mesma forma, acredito que o sentido da vida não está em alcançar as metas traçadas, embora traçar metas possa ser importante para direcionar a vida, mas somente em viver a vida no momento presente com significado.

E significado é a palavra-chave. Um dos sentidos da palavra “sentido” é significado, que por sua vez denota valor. Então, o sentido da vida é ter uma vida com significado ou, em outras palavras, uma vida que tenha valor.

Em vez de buscar o sentido da vida, acredito que haja uma pergunta melhor: como fazer a vida ter valor?

Viver uma vida com sentido é viver uma vida que tenha valor, que seja cara para si mesmo e para os outros.

Uma resposta maravilhosa para a pergunta acima foi dada pelo filme Soul, dirigido por Pete Docter e lançado no ano passado pela Pixar.

No universo do filme, antes de se encarnarem as almas se preparam em uma escola da vida, que existe em uma etapa anterior à vida na Terra. Lá, elas aprendem a encontrar seus objetivos na vida terrena. Porém uma alma infantil se encarna por erro diretamente em um corpo adulto.

Conforme aprendeu na escola pré-vida, ela busca encontrar seus objetivos na vida, porém não consegue e se frustra.

Conclui que ela não serve para viver, que sua vida não tem sentido. Contudo, a trama evolui e a alma infantil faz uma linda descoberta: alcançar na vida não é o mesmo que encontrar um propósito para viver.

Assim, ela aprende que o propósito de viver é simplesmente viver. Em outras palavras, que o sentido da vida está em sentir a vida, como sentir o vento batendo em seu rosto ou o mar molhando seus pés, não em alcançar objetivos ou vencer desafios.

Na verdade, a vida não tem sentido nenhum, assim como a pergunta pelo sentido da vida. Nós construímos o sentido dela no viver quando fazemos ela ter significado ou valor.

Em O Guia do Mochileiro das Galáxias, o supercomputador mostrou que a pergunta estava errada, assim como qualquer resposta. Em Soul, uma alma infantil descobriu que o sentido da vida é sentir a vida.

E Thich Nhat Hanh nos mostra que a vida deve ser vivida no momento presente. Acredito que esses três elementos se unem para nos fornecer uma reflexão maravilhosa sobre essa pergunta tão fundamental para a existência humana e, ao mesmo tempo, tão desnecessária

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